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Viagem

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Desenhar palavras: A universidade, o verão, o vento e os livros.

Um post sobre o encontro com a beleza e a aprendizagem da saudade...

Como já falei aqui minha bolsa sanduíche é curta. Quatro meses incompletos, porque demorei prá conseguir a documentação prá vir.

Agora começo a me preparar para a volta embora ainda tenha 25 dias pela frente, 10 dos quais vou passar na Dinamarca fazendo um curso de teatro com o grupo Odin.

Agora, em Milão, a minha universidades está fechadas, de férias. Até mesmo a biblioteca. Aqui as estações delimitam a economia, a cultura e o comportamento das pessoas. Mesmo sabendo que seria um período atípico era o único que em que eu poderia vir.

O verão em Milão é muito quente, sem vento ou brisa. A cidade ficou completamente vazia. Muitos pernilongos e turistas.

Dei sorte! A dona da casa em que moro, uma poeta e crítica literária, tem uma casa na montanha, na Ligúria e uma na praia, na Sardegna.

E me convidou prá sair de Milão no verão. Comigo eu trouxe meu notebook que tem acesso à internet com uma “chiavetta” da TIM, não conheço se tem no Brasil, aqui funciona que é uma maravilha (custa pouco) e muitos livros.

Ler em língua estrangeira não é muito rápido, mas como estou em imersão é um excelente exercício. Os livros aqui não custam tanto quanto no Brasil. Existem boas livrarias e livros usados no final do ano letivo se encontram aos montes. Não sei ainda como vou fazer para levá-los, quando descobrir eu conto.

Fiz uma pesquisa de alguns autores para descobrir o que destes não tinha sido ainda publicado no Brasil e alguns que não têm nenhuma publicação.

Em pouco tempo e nem tanta grana não deu prá comprar tudo o que eu queria. Para ler então vou demorar uma vida. Faltam alguns ainda que encomendei e pego quando a livraria voltar a abrir...Os cadernos do Círculo de Eranos, a Amina Shah, Durand...

Mesmo insatisfeita, porque penso sempre no transporte, no tamanho da mala, nos euros a pagar por excesso... Acredito ter feito um boa bibliografia prá minha pesquisa. Assim como faço em São Paulo pesquisei preços e comprei em livrarias da universidade e pedi desconto já que sou estudante. Alguns livros eu ganhei do pessoal do grupo do Imaginário. Obrigada pessoal!



É porque aqui todo mundo publica, embora reclamem muito disso, têm uma cultura de editoras, de livros em circulação e de traduções muito grande. São rápidos, escrevem bem. Na minha opinião fazem uma escola de ensino médio meio The Wall (o filme do Pink Floyd) mas que é muito forte com ensino de grego, latim, filosofia e história da religião sem falar do básico e que valoriza pouco Arte e Educação Física. Qualquer semelhança terá sido mera coincidência...Deixa todo mundo meio louco por um tempo e sem muita identidade...

A graduação porém é muito diferente da nossa, exames orais e escritos ao final das disciplinas, conheci pouco mas dizem que saímos verde da universidade na graduação, concordo, mas tenho a impressão de que aqui saem mais do que verdes...Conheci pouco já que cheguei no final do ano letivo e assisti só a alguns exames orais.

Ando emocionada com o fato de poder ler livros que há tempos eu queria ler. Verdade que no doutorado todo mundo tem que ler pelo menos duas línguas, mas importar os livros custa sempre muito caro. Meu cartão de crédito, atualmente estourado e problemático e minha conta na Amazon.com que o digam!

A cultura italiana é de uma riqueza impressionante. Viver a possibilidade de conhecer a seus diferentes dialetos, comidas, festas, pessoas tem sido uma experiência riquíssima e à parte.

Na Sardegna, estou há 5 dias e parto amanhã, dia 06 de agosto, aniversário da Anabelle, minha irmã mais nova! (Meu norte, meu sul, meu leste, meu oeste, porto seguro, âncora do meu barquinho ao vento...)

Como vai ser passar o aniversário dela longe ainda não sei...


Comprei na lotérica por 5 euros um cartão prá ligar pro Brasil mais em conta. Ah e tem o skype ... Mas vai por aqui um brinde à minha irmã de sangue e de coração!

Aqui na Sardegna conheci as rochas batidas pelo vento, o mar cor de esmeralda, a comida dos pastores de cabras que habitam a Sardegna há milhares de anos.

O pão é maravilhoso. O queijo especial. As “seadas”, tipo de pastel recheado com queijo doce e limão servido com mel é uma delícia tão maravilhosa que eu gostaria de poder levar kilos na mala...

Faço meu "training" ( uma espécie de preparação corporal)  no telhado da casa, uma vila (casa) em Porto Rafael que tem um mirante para o mar. Danço com o vento, meu companheiro de infância, prá aguentar o tranco lá no curso do Odin.

Leio O Saggio de Bandiagara, oh Deuses, obrigada! Sobre a vida de Tierno Bokar para complementar o livro do meu orientador daqui, Paolo Mottana que cita o sufismo e para me nutrir do Bem! Tem também que se o Peter Brook encena o Mahabaratha fico conhecendo e leio, depois encena a vida de Tierno Bokar...Não vi mas fiquei curiosa...e...nem conto a maravilha que é o livro!

E escrevo minha tese, todo dia um pouquinho...

A partir de agora começa a contagem regressiva. Uma sensação estranha de pena de deixar essas maravilhas vai se insinuando...Faz parte da viagem: o regresso.

Ah, heróis! Quem souber como é me conta como foi porque o vento daqui da Sardegna está mexendo comigo! Me traz sonhos estranhos e muita inspiração!
A Cave nato... Os sobrenomes italianos traduzem o lugar ou a profissão, a confraria à qual a pessoa pertencia, o meu remete às cavernas, às rochas...Sou de origem vêneta, certo, mas as rochas da Sardegna falam comigo através do vento...


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